segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Aula teórica 5- Histórico da fitopatologia e doenças importantes

Olá pessoal,
Vocês acompanharam os conceitos, histórico da fitopatologia e importância das principais doenças de plantas.

Vocês viram que fitopatologia é uma palavra de origem grega (phyton = plantapathos = doença logos = estudo), podendo ser definida como a ciência que estuda as doenças de plantas, abrangendo todos os seus aspectos: etiologia, epidemiologia, diagnose e controle.

que é doença?

Existem vários conceitos de doenças de plantas na literatura. A seguir dois conceitos frequentemente utilizados em fitopatologia.

Whetzel (1935): “Doença em planta consiste de uma atividade fisiológica injuriosa, causada pela irritação contínua por fator causal primário, exibida através de atividade celular anormal e expressa através de condições patológicas características, chamadas sintomas”.

Agrios (2005): “Qualquer mal funcionamento de tecidos do hospedeiro causada pela irritação contínua por um agente patogênico ou fator ambiental e que resulta no desenvolvimento de sintomas”.

Histórico da fitopatologia

A história da Fitopatologia pode ser dividida em cinco fases ou períodos: Período Místico, Período da Predisposição, Período Etiológico, Período Ecológico e Período Fisiológico.

1-Período Místico
Compreende desde a mais remota antiguidade até o início do século XIX. Esse período é assim denominado devido ao homem, não encontrando explicação racional, atribuía as doenças de plantas a causas místicas. Encontram-se na Bíblia as informações mais antigas sobre doenças de plantas, atribuídas a causas místicas, apresentadas como castigos divinos. No final do período místico, botânicos faziam descrições de sintomas das doenças de plantas. Com o progresso da Micologia, a atenção foi despertada para a associação fungo-planta doente. Desta forma, Tillet (1714-1791) atribuiu ser um fungo a causa da cárie do trigo. Targioni-Tozzetti, em 1767, considerou também serem os fungos os agentes causais de ferrugens e carvões, os quais cresciam sob a epiderme das folhas das plantas. No entanto, durante esse período houve predominância marcante das teorias amparadas na geração espontânea e na perpetuidade das espécies.

2-Período da Predisposição
Inicia-se no começo do século XIX, quando se tornou evidente a associação entre fungos e plantas doentes. O suíço Prevost, em 1807, na Franca, publica o seu trabalho que mostra ser Tillettia caries o agente causal da cárie do trigo, confirmando assim as idéias de Tillet. No entanto, o trabalho de Prevost foi refutado pelos que defendiam a teoria da geração espontânea.
Dentro desse espírito, um botânico alemão Unger, em 1833, apresentou sua teoria pela qual as doenças seriam o resultado de distúrbios funcionais provenientes de desordens nutricionais que predispunham os tecidos da planta a produzirem fungos, como excrescências que neles se desenvolviam por geração expontânea. Assim, seriam as doenças que produziam microrganismos e não estes os responsáveis pelas doenças.

3-Período Etiológico
Em 1853, De Bary iniciou este período quando propôs serem as doenças de plantas de natureza parasitária, baseado nos estudos sobre a requeima da batata, provando cientificamente que o fungo Phytophthora infestans era o agente causal. As idéias de De Bary revolucionaram os conceitos da época. Nos anos subsequentes aos trabalhos de De Bary, os fitopatologistas se dedicaram em provar a natureza parasitária das doenças. Em 1860, Pasteur destrói a teoria da geração espontânea, iniciando o período áureo da Microbiologia e provando a origem bacteriana de várias doenças em homens e animais. As técnicas de esterilização, isolamento e purificação de microrganismos utilizadas por Pasteur favoreceram, em muito, as pesquisas fitopatológicas.
Ainda no período etiológico, foi formulado o primeiro fungicida eficiente no controle das doenças de plantas, a calda bordalesa, por Millardet, na França, em 1882.

4-Período Ecológico
Neste período foram conduzidos estudos sobre diversos aspectos do meio, como fatores climáticos, edáficos e nutricionais, além de outros. No período ecológico foram iniciados os estudos sobre epidemiologia, sobrevivência do patógeno, disseminação, penetração, colonização, condições predisponentes, ciclo biológico, etc.

5-Período Fisiológico (atual)
De 1940 a 1950 foram conduzidas pesquisas básicas sobre fisiologia de fungos e das plantas e, com a evolução da Fisiologia, da Microbiologia e da Bioquímica, surgiram novas teorias sobre a relação planta x patógeno e a sua resultante - a doença. Mais recentemente abordagem epidemiológica e biotecnológica tem auxiliado nos estudos fitopatológicos.

Doenças de importância histórica no mundo

1-Requeima da batata – Phytophthora infestans (Fome na Irlanda)
A escassez de alimentos na Europa no século XIX foi um episódio muito conhecido na história mundial. De 1845 a 1846, tubérculos de batata foram perdidos na Europa devido a uma doença hoje conhecida como requeima da batata. Na Irlanda, especialmente, onde a alimentação era composta praticamente 100% de batata, cerca de 2 milhões de pessoas morreram de fome. Devido a isso, calcula-se que essa doença levou a emigração de 1,5 milhões de irlandeses principalmente para a América do Norte.

2-Ergotismo: trigo x Claviceps purpurea
Uma doença de planta conhecida como ergotismo causou a morte de muitas pessoas devido à produção de toxinas, entre elas o LSD no corpo de frutificação do fungo Claviceps purpurea. Esses corpos de frutificação, escuros e em formato de esporão, são formados quando o fungo infecta sementes de centeio. O pão preparado com esse centeio contaminado se ingerido causa formigamento dos membros, elevação de temperatura corporal, problemas mentais, aborto, gangrena, alucinações e morte. Esta doença era conhecida como fogo sagrado ou fogo de Santo Antônio e era comum na Idade Média.

3-Ferrugem do café – Hemileia vastatrix
O impacto de um problema fitopatológico pode até mesmo levar a mudança de hábitos humanos. O Ceilão, hoje conhecido como Sri Lanka, produzia café e o exportava quase que exclusivamente para a Inglaterra. Em 1869, surgiu uma doença devastadora, conhecida como ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix. A produção de café chegou a zero e a exportação foi totalmente prejudicada. Os cingaleses não esperavam que um pequeno fungo fosse desiquilibrar a sua economia provinda de uma monocultura. Pela falta do café, os ingleses procuraram outra bebida estimulante para suas tardes. O chá. Desta forma, o chá substituiu o café como a bebida preferida mais popular dos ingleses.


4-Catástrofe de Bengala
Na temporada de plantio de arroz de 1942, as condições climáticas eram adequadas para a epidemia da doença, seguido de um ciclone e enchentes. O rápido avanço da doença na safra de 1942 proporcionou perdas de 90%. Com a falta de alimentos em Bengala grande parte da população passaram fome. O resultado dessa perda de produção foi a morte de mais de 2 milhões de pessoas!


Doenças de importância histórica no Brasil

1-Mal das folhas da seringueira - Microcyclus ulei
 No Brasil houve uma doença que causou perdas econômicas significativas na Amazônia. No início do século XX, o Brasil era um dos maiores produtores mundiais de borracha. No fim dos anos 20, Henry Ford queria produzir pneus e outros componentes para automóveis a partir da borracha de seringais brasileiros. Batizada de Fordlândia, no estado do Pará, esta nova cidade foi a escolhida (e comprada) por Ford para a produção de borracha. Mas uma doença extremamente destrutiva surgiu nos seringais desta nova cidade. O mal das folhas da seringueira causada pelo fungo Microcyclus ulei. Os 4 mil ha de seringueiras que foram plantados em 1928 foram abandonados em 1934. Neste mesmo ano, Ford não desistiu e tentou sua nova produção de borracha em Belterra, cidade a alguns quilômetros de Fordlândia. Não houve sucesso. Os seringais de Belterra também foram dizimados. Ford perdeu milhões de dólares neste empreendimento. Naquela época, plantavam-se seringueiras no sul da Ásia também. O baque causado pela impossibilidade de continuar a produzir borracha no Brasil em grande quantidade e a ausência da doença no sul da Ásia deram oportunidade para que a produção de borracha do sul asiático se tornasse a maior do mundo.

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