domingo, 25 de fevereiro de 2018

Aula teórica 1- Virologia vegetal e viroides

Olá pessoal,

Na aula de segunda-feira vocês puderam acompanhar as características e comportamento dos vírus e viróides que causam doenças em plantas.

... Vocês lembram ?!  A partícula viral é submicroscópica, ou seja, ela é muuuuuito pequena, apenas conseguimos visualizá-las por meio de um microscópio eletrônico...

Os vírus são constituídos de proteínas e ácido nucléico (RNA ou DNA) ... lembrem-se: um vírus nunca tem os dois tipos de ácidos nucleicos! A maioria dos vírus de plantas possuem RNA como material genético. O ácido nucléico é revestido por uma “capa” protetora (o capsídeo), constituída de moléculas de proteínas (as subunidades).

Constituintes de uma partícula viral


CURIOSIDADE: Alguns vírus de plantas possuem lipídios, glicoproteínas e até membranas como constituintes (p.ex. o Tomato spotted wilt virus, TSWV).

Vocês viram a variedade de sintomas decorrente da infecção viral. Vejam alguns exemplos :

-Bronzeamento na folha da videira - Closterovírus


-Mancha anelar do mamoeiro (PRSV-P)


-Lesões aneladas e cloróticas em folhas de citros - CiLV


-Lesões cloróticas em folha de C. quinoa - BYMV


-Mancha café em sementes de soja - VMCS


-Variegação em flores de wallflower Erysimum -TuMV


-Lesões locais em N. tabacum - ToRSV


-Manchas em tomate - TSWV


-Mosaico em folhas de fumo - TMV



CUIDADO: Outros fatores de sintomas semelhantes aos de infecção por vírus:

                    - Deficiência nutricional
                    - Toxinas produzidas por insetos
                    - Distúrbios
                    - Toxidez por inseticidas ou herbicidas
                    - Alta temperatura

CURIOSIDADE: Na Holanda, no século XVII, tornaram-se famosos os produtores de tulipas variegadas. Bulbos de tulipas eram negociados a preços absurdamente altos. A variegação era o sintoma decorrente da infecção de um vírus. Essa variegação era muito apreciada na época, tanto é que em uma exposição realizada em 1656, um único bulbo foi vendido pelo seguinte preço: 4 toneladas de trigo, 8 toneladas de cevada (da pra fazer muita cerveja :D), 4 bois gordos (o churrasco está garantido!), 4 barris de cerveja (mais cerveja !!!) , 2 barris de manteiga, 450 kg de queijo, uma cama, um armário e uma pulseira de prata! Essa soma foi paga por um bulbo infectado pelo Tulip breaking virus, embora na época esse fato não fosse conhecido. Hoje, cultivam-se tulipas cuja variegação tem origem genética.


Variegação em tulipas com TBV


Eu sei ... nomenclatura sempre parece bastante difícil, mas para vírus não é ... vejam:

  •  O nome científico sempre deve estar em inglês
  •  1º nome do hospedeiro
  •  2º nome do sintoma típico
  • 3º nome “virus”

 Vejam este exemplo:

Tobacco masaic virus -TMV (Vírus do mosaico do fumo)

         Tobacco                               mosaic               virus
(Hospedeiro = Tabaco)       ( Sintoma: Mosaico)     (Virus)

Como os vírus se multiplicam na planta?

Para vírus utilizamos a palavra replicação. Vamos recordar o que isso significa !
Replicação consiste na duplicação do ácido nucléico, tendo por base um molde pré-existente.

Algumas eventos estão envolvidas na replicação viral. Vejam esses eventos na figura abaixo:


1- Penetração: Introdução da partícula viral ou de seu ácido nucléico na célula vegetal (por ex. Vetores, ferimentos) 

2- Desnudamento: Liberação do ácido nucléico no interior da célula pela desmontagem do capsídeo.

3- Síntese de componentes virais: ácido nucléico livre comanda o metabolismo da célula para síntese de novas moléculas de ácidos nucléicos e proteínas.

4- Maturação: montagem da partícula viral  no citoplasma (RNA) ou núcleo (DNA) da célula hospedeira.

5- Liberação: vírions são translocados para células vizinhas por meio de plasmodesmas (movimento célula-a-célula) podendo atingir o floema (movimento sistêmico).

Como os vírus se locomovem na planta?

Vocês viram que os vírus podem entrar na célula por meio de ferimentos ou vetores. Uma vez na dentro da célula os vírus podem se distribuir a curta (movimentação célula-a-célula) e longas distâncias (movimentação sistêmica via floema).

Movimento célula-a-célula: o vírus replica em associação com o retículo endoplasmático (RE), posteriormente uma proteína chamada de "proteína de movimento" (MP) irá se associar ao RE, direcionando o RNA viral para os plasmodesmas. A proteína MP aumenta o limite de exclusão dos plasmodesmas permitindo a passagem do RNA viral.

Movimento sistêmico: depois que os vírus caem no floema seu transporte segue o fluxo normal de fotoassimilados.

Como ocorre a transmissão de vírus?

... Recordando: transmissão é ação da transferência do vírus de um hospedeiro doente para outros sadios.

Tipos de transmissão:

1- Sementes e pólen : A semente infectada pode ser importante fonte de inóculo para epidemias. Esse tipo de transmissão pode levar a disseminação do vírus a longa distância, devido ao comércio nacional e internacional de semente. No entanto, os vírus de plantas, em sua maioria, não são transmitidos dessa forma. Mas isso não significa a falta de importância desse tipo de transmissão. Por ex., na Califórnia, o LMV, transmitido pelas sementes de alface, causará perdas de 50% quando presentes em sementes na ordem de uma semente infectada em 30.000.

2- Material propagativo: Em muitas culturas propagadas vegetativamente, vírus de plantas pode ser facilmente transmitidos no material utilizado na propagação. Esse tipo de transmissão é particularmente importante em frutíferas e em culturas como a batata, o morango e o alho.

3- Cuscuta spp.: Plantas do gênero Cuscuta (popularmente conhecida como corda-de-viola) não possuem folhas e não sintetizam clorofila. Essas plantas são parasitas de outros vegetais, removendo nutrientes do hospedeiro por meio dos seus haustórios. Caso a Cuscuta parasite duas plantas e uma delas estiver infectada pelo vírus ela poderá ser capaz de transmitir o vírus para outras plantas sadias.

4- Vetores: A grande maioria dos vírus de plantas é transmitida por meio de vetores. Embora a transmissão por insetos seja a de maior importância, algumas viroses de relevância econômica podem ser transmitidas por outros tipos de organismos, como fungos, ácaros e nematóides.


Relacionamento vírus-vetor




Como controlar as viroses de plantas?

ATENÇÃO: Antes de estabelecer estratégias de controle é preciso identificar corretamente o vírus, conhecer o típo de transmissão do vírus na planta, conhecer os hospedeiros e o ambiente

Existem várias estratégias de controle para fitoviroses. Vejam algumas delas:

1- Uso de materiais propagativos sadios (livres de vírus): sementes e órgãos de propagação sadios.

2- Eliminação de possíveis fontes de inóculos: consiste na eliminação de plantas doentes pelo rouguing ou erradicação.

3- Medidas de higiene: tratamento de implementos agrícolas com produtos químicos (Por ex. Hipoclorito de sódio 0,25%). 

4- Modificação nos procedimentos de plantio: ter um período livre com a cultura, mudança da data de plantio, evitar plantio escalonado e sequenciais.

5- Repelentes reflexivos: utilizados para repelir os vetores da plantação (por ex. utilização de casca de arroz no solo, plásticos coloridos, plantas atrativas para os vetores).

6- Barreiras físicas: consiste na interposição de uma barreira física para que os vetores não tenham contato com as plantas (por ex. telados).

7- Controle químico de vetores: utilizados para vírus com relacionamento circulativo e ciruculativo-propagativo.

8- Pré-imunização: consiste na imunização da planta com estirpes fracas do vírus para que ela se proteja da estirpe forte.

9- Uso de variedades resistentes

10- Transgenia



Viroides


Vocês viram que os vírus são muuuito pequenos sendo apenas visualizados por meio de um microscópio eletrônico. Os viroides são ainda mais pequenos. São os menores microrganismos capazes de se replicar no interior de uma célula. Considerados os menores patógenos de plantas, são constituídos por um minúsculo RNA de fita simples, circular, com tamanho que oscila entre 250 e 350 nucleotídeos (10 vezes menores que a maioria dos genomas dos menores vírus de plantas conhecidos).

Composição de um viroide

Eles não codificam proteínas e, diferentemente dos vírus, não possuem capa proteica, sendo totalmente dependentes da maquinaria transcricional da célula do hospedeiro para cumprir as diferentes etapas do seu ciclo infeccioso que inclui: replicação, movimentação e patogênese.

Transmissão de viroides

Os viroides são transmitidos naturalmente por:

1- Contato - ferramentas contaminadas

2- Propagação vegetativa

3- Semente ou pólen

IMPORTANTE: Não há vetores conhecido na transmissão de viroides em plantas!


Doenças causadas por viroides


- Afilamento do tubérculo da batata

Potato spindle viroid - PSTVd (Praga quarentenária no Brasil)


- Cadang-Cadang

Coconut cadang-cadang viroid - CCVd (Praga quarentenária no Brasil)


- Exocorte dos citros

Citrus exocortis viroid - CEVd

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